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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Lais Vianna: acontecimento poético


Eu gostaria de dizer que uma das minhas belas irmãs completou, no dia 17 de fevereiro, (sob a égide de Aguário) 22 anos. Queria dizer que em todas as poesias em que escrevo eu me remeto a imagens mais que valiosas e que compensam tudo aquilo que a palavra, às vezes, não diz. Tento esticar-me a mais ardua tarefa de simbolizar qualquer palavrinha que signifique o que estou vivenciando. É uma batalha que eu travo todos os dias, tendo ainda a demiurgica experiência de entrar na beleza, na tecitura que a poesia nos põe a toda a prova. Essa urdidura que a poesia nos lança é a grandeza do imaterial. Na verdade a poesia tem corpo, aliás, todo corpo é uma poesia e é nela que a forma se concretiza, mesmo não possuindo forma alguma, ou qualquer realização geométrica ou euclidianices. Assim, não planifico nada, nem mesmo meus amigos, nem mesmo aqueles da minha família que eu tanto amo. Mas, ao expressar aquilo que digo, direi apenas que é poesia e nela se faz vida.

Aqui deixo uma homenagem a essa grande poesia chamada: Lais Vianna

Ode à menina Lais


Fruta gostosa de Aquário

Branquidão de Isolda mais bela

Mulher, teu nome é Lais

Boa em todas as virtudes

Em caminhos mais que mágicos

Eis o vento, o ouro, as dádivas de Iansã menina

Eis as águas fecundas da mãe d'água Iemanjá

Eis a espada vitoriosa das armas de Jorge da Capadócia

Eis as pedras tão justas de Xango, delas é que movem rios


Tuas palavras condenam-me a mais absoluta rivalidade

Mas em campos lindos é a mais sublime das suavidades

Tez madura, olhos de menina sapeca

Lais, luz e liberdade


Teu ventre anseia maternidade

Mundo posto em nascimento

De Mãe Gaia, tu eis a dádiva

Nem mesmo os anjos

Nem mesmo as fúrias em gritos, em grutas

Nem os castigos de Vênus a Psiquê

Nem os ventos de Juno

Nada move tão mais que seu sorriso

Podem dez mil cair a tua direita

Eis em pé que tu caminhas

Sobre uma estrada retilínea

Lais, luzidia longevidade


Brilha em tua voz

As servas como voz

Reverbera em tua alma um grande grito de amor

Eis amiga em todos os dias

Eis paixão em todas as horas

Eis o sangue que pulsa de forma latente

Eis a cura de qualquer tristeza

Lais, livre lua laureada


Eis a juventude

Eis o tempo,

Que nunca chega ao nada


CAIKO FIGUEIREDO

Em, 18 de Fevereiro de 2010.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

A mangerona: símbolo de união e o conto "O himeneu"


Muitas são as definições sobre o caráter do enlace, mas ele é algo que nasce sobre a rejeição do desfazer. Gostaria de deixar um cântico latino de Catulo nesta introdução.


Carmen 62, 39-67

Ut flos in saeptis secretus nascitur hortis,
ignotus pecori, nullo conuolsus aratro,
quem mulcent aurae, firmat sol, educat imber;
multi illum pueri, multae optauere puellae;
idem cum tenui carptus defloruit ungui,
nulli illum pueri, nullae optauere puellae;
sic virgo, dum intacta manet, dum cara suis est;
cum castum amisit polluto corpore florem,
nec pueris iucunda Manet, nec cara puellis.
Hymen, o Hymenaee, hymen ades o Hymenaee!


Ut vidua in nudo uitis quae nascitur aruo,
nunquam se extollit, nunquam mitem educat uvam,
sed tenerum prono deflectens pondere corpus,
iam iam contigit summum radice flagellum;
hanc nulli agricolae, nulli accoluere iuuenci;
at si forte eadem est ulmo coniuncta marito,
multi illam agricolae, multi accoluere iuuenci;
sic virgo dum intacta manet, dum inculta senescit;
cum par conubium maturo tempore adapta est,
cara uiro magis et minus est inuisa parenti,
Hymen, o Hymenaee, hymen ades o Hymenaee!

Et tu nei pugna cum tali coniuge, virgo,
Non aequom est pugnare, pater cui tradidit ipse,
ipse pater cum matre, quibus parere necesse est.
Virginitas non tota sua est, ex parte parentum est,
tertia pars partri, pars est data tertia matri,
tertia sola tua est; noli pugnare duobus,
qui gênero sua iura simul cum dote dederunt.
Hymen, o Hymenaee, hymen ades o Hymenaee!

A tradução que se segue é de Eduardo Amaro:

Como a flor solitária nasce no jardim cercado,
ignorada ao rebanho, não arrancada com esforço por nenhum arado,
que as brisas acariciam, o sol anima, a chuva nutre,
muitos meninos, muitas meninas a desejaram.
Quando essa mesma flor, colhida por fina unha, murchou,
nenhum dos meninos e nenhuma das meninas a desejaram;
assim como a virgem inviolada é querida para os seus,
quando ao corpo violado perdeu a flor casta,
não fica agradável aos meninos nem querida às meninas.
Hímen, ó Himeneu, vem hímen, ó Himeneu!

Como a videira que nasce sozinha num campo nu,
nunca se ergue, nunca produz doce uva,
mas curvando seu corpo sobre o peso que a faz inclinar,
já já quase atinge o mais alto broto na raiz;
esta nenhum agricultor, nenhum jovem cultivaram.
Se por acaso a mesma se uniu ao olmo como marido,
muitos agricultores, muitos jovens a cultivaram;
assim a virgem permanece inviolada, envelhece sem cultivo,
quando alcança casamento harmonioso em época propícia,
é mais querida ao esposo, menos honrosa ao pai,
Hímen, ó Himeneu, vem hímen, ó Himeneu!

E tu não lutes com tal marido, virgem,
não é justo lutar (contra aquele) a quem o próprio pai entregou,
o próprio pai com mãe, aos quais é preciso obedecer.
A virgindade não é toda tua, em parte, é dos pais,
terça parte do pai, terça parte à mãe foi dada,
terça parte é somente tua, não lutes com nenhum dos dois
que ao mesmo tempo deram ao genro seus direitos como dote.
Hímen, ó Himeneu, vem hímen, ó Himeneu!

Assim é o desejo do homem frente ao enlace: o efeito terapêutico da manjerona. Ela alivia contusões e é sicatrizante. Toda comunhão cicatriza, alivia, ameniza e deixa um fruto ameno de certeza. Publico agora o meu conto "O himeneu". Reparem que não digo quem é este narrador e muito menos as suas principais características, já que a minha pretensão é focar na união e no que tange a sua existência. Pense na unidade e não em duas pessoas, são minha pequenas recomendações.
* * *
O himeneu

Já faz bastante tempo que eu conheço o meu amigo e é de época bem distante. Uma amizade meio amorfa que começou bem esquisita sem nem mais e nem porque. Aos olhos pude reconhecê-lo como amigo, uma companhia sem nenhum compromisso, sem elos, nem cobranças e nem responsabilidade. Eramos diretos, objetivos e brigávamos sobre o signo da sinceridade. Eu olhava e ele penetrava sua mira ocular sobre as mais profundas relevâncias da minha ocularidade castanha.
Era o filho da nossa vizinha e todos os vizinhos que se prezam tentam, no mínimo, exercer sua obrigação de cordialidade, de risos entredentes de bons dias mal ditos. No caso de minha mãe e a sua prestimosa vizinha, isto era diferente. Ali, sabia-se que existia uma certa relação amistosa que vagava pela intimidade. Claro, uma boa amizade se mede pela intimidade, mas isso não acontecia com as duas, nem tudo era dito, nem tudo revela-se, permanecia sobre o mais oculto cofre da mente, da sobriedade e da compostura. Elas eram condescendentes a ponto, do lugar mais íntimo, realizar-se um pretensioso pacto, um indiscutível respeito. Mas não que não pudesse fazer brincadeiras ou qualquer pilheria que atirasse a conversa para um momento mais íntimo. Só que essa intimidade se regulava a limites da mais absoluta correção.
Em cima de tanta discrição, conheci o incerto, o desregulado, o desmedido, o que estava distante da verdade e de tudo aquilo que soava falso. Eramos, pelos olhos, cúmplices do mesmo crime e absortos sob a mesma condenação. Ali, eu era só olhos. Mas tudo isso, que em segundos não eram perceptíveis e rememorados, não passou de um extenso e condizente cumprimento de mão. Disse o meu nome e ele disse o seu, construímos um elo. Passamos a brincar com frequência e com bastante barulheira. Para alguns, os nossos gritos eram insuportáveis. Mas só eram nós dois, a minha única companhia e eu fazia de conta que também era a sua única parceria.
Num dia trágico, a televisão noticiava o desaparecimento de uma banda de rock. Era um domingo, um dia de Deus, mas um dia de morte. Eu acordei sobre o choro condolente de minha mãe. Tomando café, pude ver, pela televisão, a recuperação dos corpos. As notícias eram regadas de sensacionalismo e com uma pitada de tristeza. Depois, eu fui até a casa do meu amigo vizinho e pude perceber uma certa alegria em seus olhos, mas a boca, impotente de verbalizar. Nós combinamos de jogar Banco Imobiliário, eu tinha o tabuleiro e os apetrechos do jogo. Levei e ele contente pegou a caixa de jogo que estava nas minhas mãos, abriu, separou as peças e começou a acariciar o tabuleiro, como se aquilo fosse representação de algo mágico. Ele via as formas e se conectava para um mundo diferente. Eu lhe perguntava sobre a tragédia da banda de rock, ele não ouvia a minha voz, sonhava ter propriedades na avenida paulista ou até mesmo uma casa no Morumbi. Ele tratou de montar o jogo e, ele mesmo, definiu-se como banqueiro. Somente os seus olhos ambiciosos e a boca lacrada deram conta da realidade criada.
Começamos o jogo. As regras eram claras, os dados lançados e o dinheiro repartido. Eu começava e lançava os dados para mover o meu peão vermelho. O seu peão verde dava sinais de prosperidade ao alcançar as casas maiores. Ele comprava as propriedades como um desgovernado aristocrata, vendia as casas sobre especulações de futuros lucros e dividendos, perdia dinheiro como um profissional de roleta de Las Vegas. Era um jogador-estrategista nato! E a desenvoltura dos seus braços, do seu corpo que movia na mesa, diante da euforia, mostrava um homem perversamente empreendedor, submetido a vários lances arriscados como se estivesse a frente de uma roleta russa. Ele jogava com bastante vigor e com uma pitada de desejo, nem mesmo a noticia da tragédia que passava na televisão ligada lhe movia as pestanas, a atenção sobre o jogo era extrema, sendo que cada dinheiro perdido era um palavrão dito. Eu disse que era um jogo, mas ele não ouvia,.trepidava sobre a cadeira, rolava os dedos sobre os outros. Até que eu sugeri que reiniciássemos aquele jogo, afinal a sua vitória era evidente.
Recomeçamos o jogo. Numa outra rodada ele estava em posse do peão vermelho. Eu, sobre o peão da sorte: o verde. Eu ganhava as propriedades sobre uma elegante naturalidade e sobre uma tranquilidade bucólica. Um jogo de tabuleiro expõe ao homem o seu verdadeiro caráter . Ali eu mostrava o meu talento administrativo, desfilando o meu peão da sorte sobre as casas maiores. Nessa rodada, nunca precisei pegar uma carta no “sorte ou revés”. Ele admirava a minha sorte, ele olhava atento para mim a cada lance, mas ele nunca mexia os olhos sobre mim. A boca selada era terminantemente imóvel sobre uma inércia misteriosa. Era uma força que lhe levava ao mesmo critério do não-dito. Nada revela-se, tudo permanecia sobre o mais oculto cofre da mente, da sobriedade e da compostura. Eu jogava sobre uma vitoriosa benção de todos os deuses. Até que , ele se rendeu a minha tão preciosa desenvoltura. Ele me propôs um empate. Eu disse que queria a vitória e ele disse que jamais daria e que aceitava um outro duelo! Mas, meu Deus! Um duelo, por quê? Eu tenho o direito de vencer o jogo, afinal quem trouxe o tabuleiro, os peças fui eu. Senti uma pontada de desafio sobre mim. Então, não hesitei e fui a diante. Prossegui o jogo com os mesmos peões e vi a vitória dele novamente, só que eu estava disposto a ganhar. Eeu pedi para ele um pedido sincero de clemencia. Ele disse sobre um sarcasmo que eu pedia arrego agora e perguntava onde estava a minha coragem de protestar uma vitória. Eu admiti a minha derrota numa extrema humildade e pedi para que comprasse as minhas propriedades Ele disse um não! A não ser que eu... lambesse o seu membro. Sob a reação do espanto e da empáfia, eu me recorri a porta e ela estava fechada que nem a boca... Meu Deus, a boca dele revela-se, mostrava o seu teor, não estava mais lacrada, o jogo lhe dera a sua real natureza e mostrava aquilo que eu nunca tinha visto, uma voz regada com vacilações e cochichos esquisitos. Então, eu lhe disse, um tudo bem trêmulo, um sinal medonho de concordância. Ele fechou a janela e me levou até seu quarto. Ele fechou também a porta! Sentou-se na cama e abaixou a sua calças. Eu ajoelhei e devagar acompanhei o seu ritmo , sem que perdesse a harmonia dos gestos. Eu lambia o membro de uma forma lenta e ele guiava com as mãos sobre a minha nuca, eu me rendia, abria a minha guarda. Criava-se em mim um ventre, um friozinho barato e ao mesmo tempo uma fogueira de delicias. Eu lambia o membro como se eu me entregasse a um imenso sorvete e que, como criança. a gulodice me levava a ir mais fundo.
De repente, senti em minha boca o resultado quente de tanto alvoroço. Era leite, era creme, era transparente. Era saboroso, era bom e eu queria mais. Após oito vezes ao dia, esse remédio me dava conforto. Poderia ser aonde quisesse, desde que não nos peguem em flagrante. O sabor daquele cremoso crime se esbaldava em meu peito, caso pedisse duas vezes. Não me recusava, do contrário, era eu que não queria, às vezes, sob o pretexto de alma indisposta. Assim sentia, dentro da mais profunda resignação e da rotina tão deliciosa, eram todos os dias, na minha casa ou na dele e sempre no quarto. Teve um dia em que no meio do processo, o minha irmã mais nova, com sua angelical idade de dois anos, nos viu em pleno ato. Seus olhos acompanhavam a minha cabeça que conferia sob o estatuto da língua a longitude membral do meu amigo. Ele tirou minha cabeça depressa e eu sentei de costas para o berço. Minha irmã, que nada sabia e nada entendia, voltou por berço e voltou para seu sono. Meu amigo se levantou em desespero, em amplo olhar de terror, dizia que a minha irmã ia contar. Eu disse que não, é muito pequena. E o meu amigo perguntava se daqui alguns anos ela contasse. Ele contou uma história meia torta dizendo que uma vez uma menina na idade do minha irmã era testemunha do crime de sua mãe e que, anos depois, ela apontara o assassino que era o próprio pai e que os flashes do acontecido lhe marcaram de tal forma que a menina sonhava todos os dias com o fato. Eu aleguei que era diferente, já que se tratando da morte da mãe. Meu amigo disse um nunca mais. E eu, sobre a sede do gosto, acompanhei-o até a porta. Na escada que dava para a rua, eu pedi mais e aos berros como uma suplicante nas terras de Tebas. Ele olhou dos dois lado com precaução e mostrou o seu membro petrificado. Continuei até sair leite da pedra, junto ao imenso perigo da nossa descoberta.
Tudo isso acontecia, até que em um dia veio o caminhão de mudança e as coisas da minha casa dentro da caçamba. Eu ia para um lugar distante e meu vizinho ficaria. Eu passaria anos sem vê-lo. A distância sacramenta uma mutilação de tudo aquilo que eu sentia ao sabor do céu da boca: sabor de gigante, fruta amarga-gostosura, mel derramante sobre minha carne bruta. Anos depois, uma visita, ele acompanhado de um amigo. O suposto amigo ria de mim e meu ex-vizinho balbuciava segredinhos pelo ouvido dele, olhando para mim com um olhar ardido de sadismo. Eu vi o fim, eu vi as imagens se desbotar como tintas em telas, como passados intensos que reduzem a sinistrato-de-pó-de-pulga. Sentia o meu amor, a flor casta inviolada, que nem mesmo meninos e meninas não querem mais. Arrancada por perversas unhas, tiraram essa fina flor,da terra violácea, que não era arrancada com nenhum esforço por nenhum arado. Essa mesma fina flor que não mais as brisas acariciam, nem o sol anima e a nem chuva nutre.
Os anos passavam singelos, os dias escorriam e a vida castigava. Numa rua qualquer, depois de vários anos, eu reencontro o meu velho amigo. O tempo havia sido generoso com ele: era o mesmo, mas com uma pequena novidade: era noivo. Meu choro, ali, convertia-se em pura felicidade, eu não entendia isso. Não sei se era seu retorno ou se era a sua volta repleta de novidades. Ele queria relembrar os nossos tempos e relembramos num hotel mais próximo. Os momentos relembrados eram mantidos, mas com um requinte do novo, da maturidade e da certeza do tempo mutável. Ali eramos velhos e novos conhecidos. Cada um sobre a vertigem de tudo aquilo que passa.
Dias depois, recebi o convite. Letras douradas e um nome cru e posto e eu chorava não acreditando. Mas, ao mesmo tempo, voltava minha alegria. Não conhecia sua futura companheira e nem mesmo queria. No dia do casamento eu estava na cerimônia e via seus olhos de tremendo vigor ao olhar para mim. Minha cabeça me remetia aos momentos relembrados e aos momentos novos. A noiva entra sobre lágrimas virtuosas e um branco espetacular. Toda noiva tem em si a mais singela vaidade de dizer que aquilo tudo era seu. Seus convidados, sua família, seu deus, seu noivo, assim era seu dia. Ela deslisava sobre o caminho até ao altar e, de repente viu o meu semblante. Ela me olhou, por alguns segundo, de forma firme. Seus olhos travavam-se em pleno combate e eu a olhava docemente até se converter, gradativamente, em intensa proteção. Os olhos da noiva delineava combate e os meus olhos, como sempre, passivos.
No momento da festa, num clube, fui até a piscina e vi que o céu era escuro, estrelado e a lua, maliciosamente, olhava para mim. O meu amigo, agora sobre os laços do himeneu, traz duas taças de champagne e olha para o meu rosto e diz que não sairei dali enquanto não aceitar o convite de beber uma taça com ele. Eu ria e me ofereci para isto. Eu bebi de olhos fechados e ele bebia olhando para mim como se estivesse lançado sobre qualquer aposta. Ele me pede um abraço e eu lhe dou. Nunca mais o vi
Na saída, eu pude notar uma outra rua, sentia um outro vento. Não olhava para traz, não me arrependi. Foi ai que eu segui a rua e um novo vento me surpreende, levando-me até uma rua agitada, cheia de pessoas aflitas e solitárias.
Eu me misturei a esta avenida tão iluminada. Eu mergulhei num mar de gente que bebia desejos.

CAIKO FIGUEIREDO
Em 17 de fevereiro de 2010.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Arlequinesco, brutal: verdadeiro


Eu estava numa fila qualquer (talvez a do bandejão) quando eu vi a minha amiga Lara Espíndola ouvir o seu mp3 e eu perguntei o que ela estava ouvindo. Ela me respondeu: “O teatro mágico”. Nossa, que lindo. E eu ouvi uma música, da qual eu não me lembro eu acho muito linda. Mais tarde, eu baixei o cd deles e ouvi. Eu juro que é uma experiência completamente nova no que se diz respeito a música brasileira. Uma qualidade poética jamais vista e com sabor sonoro bem denso. Mas, foi no meio do cd que eu tive a experiência mais radical: “metamorfoses ou os insetos interiores”. Eu vi, a partir daí, um grande poeta da atualidade: Fernando Anitelli. Gostaria de repartir com vocês essa experiência. Bom, como todo poeta, é claro que ele desperta emoções diversas como ódio, repulsa ou admiração. Portanto, para entender o que eu digo, bastar ouvir o que ele diz. A poesia é lida de uma forma tão imagética, que transmite uma enxurrada de imagens em cascatas. Saliento, também, para sua ludicidade com as palavras. As brincadeira, o arlequinesco, o burlesco leva a uma ternura tão negra e ao mesmo tempo marcante. A fonética estudaria piamente esta poesia tratando de reparar algumas sonoridades que pertubam ou se encaixam perfeitamente na poesia.

A Metamorfose ou Os Insetos Interiores ou O Processo

Notas de um observador:
Existem milhões de insetos almáticos.
Alguns rastejam, outros poucos correm.
A maioria prefere não se mexer.
Grandes e pequenos.
Redondos e triangulares,
de qualquer forma são todos quadrados.
Ovários, oriundos de variadas raízes radicais.
Ramificações da célula rainha.
Desprovidos de asas,
não voam nem nadam.
Possuem vida, mas não sabem.
Duvidam do corpo,
queimam seus filmes e suas floras.
Para eles, tudo é capaz de ser impossível.
Alimentam-se de nós, nossa paz e ciência.
Regurgitam assuntos e sintomas.
Avoam e bebericam sobre as fezes.
Descansam sobre a carniça,
repousam-se no lodo,
lactobacilos vomitados
sonhando espermatozóides que não são.
Assim são os insetos interiores.

A futilidade encarrega-se de maestra-los.
São inóspitos, nocivos, poluentes.
Abusam da própria miséria intelectual,
das mazelas vizinhas,
do câncer e da raiva alheia.
O veneno se refugia no espelho do armário.
Antes do sono,
o beijo de boa noite.
Antes da insônia, a benção.
Arriscam a partilha do tecido que nunca se dissipa.
A família.
São soníferos, chagas sem curas.
Não reproduzem, são inférteis, infiéis, in(f)vertebrados.
Arrancam as cabeças de suas fêmeas,
Cortam os troncos,
Urinam nos rios e nas somas dos desagravos, greves e desapegos.
Esquecem-se de si.
Pontuam-se
A cria que se crie, a dona que se dane.
Os insetos interiores proliferam-se assim:
Na morte e na merda.
Seus sintomas?
Um calor gélido e ansiado na boca do estômago.
Uma sensação de: o que é mesmo que se passa?
Um certo estado de humilhação conformada o que parece bem vindo e quisto.
É mais fácil aturar a tristeza generalizada
Que romper com as correntes de preguiça e mal dizer.
Silenciam-se no holocausto da subserviência
O organismo não se anima mais.
E assim, animais ou menos assim,
Descompromissados com o próprio rumo.
Desprovidos de caráter e coragem,
Desatentos ao próprio tesouro...caem.
Desacordam todos os dias,não mensuram suas perdas e imposturas.
Não almejam,
não alma,
já não mais amor.
Assim são os insetos interiores.
(Fernando Anitelli)

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

A Feldade: um novo conceito de beleza

Extrair do bruto diamante todo o encanto do brilho é lapidar o espírito da paciência. Mas, o homem hoje se rende a falta dela e tenta de qualquer forma apagar qualquer resquício do ocultável. Assim é a estética corporal e suas fórmulas milagrosas. A máscara é um utensílio indispensál e o artificial (na tentativa de nulificar o imperfeito) dá lugar ao que há de mais misterioso: a capacidade do homem buscar um meio de não ser feio. A insatisfação se torna um sentimento necessário e as pessoas exageram, chegando até a morte. Mas o belo é preciso, porém aonde se encontra a beleza. Para buscar uma resposta, tenta-se delinear a atitude feia de ser, o pecado de se deixar passar pelos anos sem utilização de “renews” ou cremes que apagam as incorreções. É possível que, algum dia, a feiura deixa de ser um capricho e se torne uma exigência em extrema beleza.

SER FEIO
A feiura é uma virtude para poucos
Ninguém é feio porque quer
É estado de graça
Momentos e nacos de felicidade imperfeita
Para ser feio
Não é só rasgar as roupas do dia
cuspir e arrotar
É preciso mover sua própria conveniência
Pra tudo aquilo que não está no atual
Fazer valer seu espirito nobre
De vestir tudo ao contrário
E perceber que és uma exclusão ambulante
E ver que isso não é defeito
É uma dádiva, um desbunde, um sexo
Uma trepa bem dada
Saia com a roupa mais rasgada
E mais horrível
E veja que a feldade é algo tão comum e singelo
Como dar pipoca aos pombos da praça
Mostre para a patricinha e para o Maurição
Que vo0cê é tão linda(o) que ofusca os olhos
E faz com que afaste os olhares
Olha, a garota de Ipanema é feia!
Ela não tem nada que os olhos não afaste
A feiura é um perigo, uma transgressão, uma subversão
É tortura
A feiura não está na liquidação
Mas no esquecido do brechó
No deposito, sempre a espera da compra
Da sua expectativa inseparável
A feiura é o elmo dos heróis feios
E dela que se faz a sua piedade
E a sua comoção
Ah, feiura
Me acompanhe até a morte
A terra, as minhocas ficarão satisfeitas


CAIKO FIGUEIREDO
Rio de Janeiro, 23 de Abril de 2008

Antonio Cícero e os Babilaques de Waly Salomão




Entender a bendita experiência sobre o campo da linguagem é uma tarefa ardilosa e um tanto perigosa. A experiência nos isola, linguisticamente, a denominações e a campos definidores. Os traços em que Antonio Cicero se prende é a capacidade muliforme e multiexprissiva da obra de Waly Salomão. Entender como Antonio Cícero repõe a dita expriência de Waly Salomão é entrar num entendimento em que a poesia não se vincula a certas padronizações de linguagens. Esse rompimento estético é uma peculiaridade de Waly Salomão é a tentativa de redefinir o papel da poesia sem "a vulva do poema". Estou postando esse maravilhoso ensaio de Antonio Cícero, extraído de seu blog "acontecimentos" (http://antoniocicero.blogspot.com/). Vale lembrar o carinho que remete a obra do poeta, sob o cuidado de não exagerar e nem mesmo exceder com suas valiosas observações. O seu olhar frente aos babilaques é uma visão de uma arte que não se prende ao espetáculo da "poesia visual" tão somente. O seguinte artigo foi publicado na coluna da Folha de São Paulo em 8/9/2007 organizada e escrita por ele.
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Os Babilaques de Waly Salomão

CADA UM dos Babilaques de Waly Salomão que estão sendo expostos no espaço Oi Futuro, no Rio de Janeiro, sob a curadoria de Luciano Figueiredo, consiste numa fotografia de uma página de um caderno em espiral, ao lado de diferentes objetos e sobre diferentes superfícies: asfalto, grama, pedra, roupas, outros cadernos etc. Na página, encontram-se desenhos e/ou colagens e/ou letras, palavras, versos, textos em manuscrito etc.Ao mesmo tempo que descrevia os Babilaques como "performances-poético-visuais", Waly advertia que "evitaria designá-los simplesmente como poemas visuais, já que essa designação é desatenta à somatória de linguagens".De fato, o que chamamos de "poesia visual" é, naturalmente, uma espécie de poesia. No Ocidente, ela possui uma tradição que remonta à Antiguidade e passa pelo dadaísmo, pelo futurismo, pela poesia concreta etc., até os nossos dias.Quando digo que a poesia visual é uma espécie de poesia, estou supondo que uma arte chamada "poesia" seja o gênero ao qual pertença a "poesia visual". Isso, porém, supõe, por sua vez, que esse gênero seja, ele mesmo, uma das espécies do gênero que chamamos "arte", ao qual pertencem também outras espécies, como a música, a pintura etc.Penso que corresponde à intenção mais profunda de Waly dizer que os Babilaques não só não se reduzem à poesia visual mas que não se reduzem a nenhuma dessas espécies de arte: nem mesmo à poesia, quando esta é tomada como uma espécie de arte entre outras.Longe de aceitar esse modo convencional de classificar a poesia, Waly considera as diferentes artes como diferentes técnicas por meio das quais a poesia é capaz de se realizar. Por isso, seu poema "Exterior" pergunta, por exemplo: "Por que a poesia tem que se confinar/ às paredes da vulva do poema?".Waly sublinha o caráter inter-relacional dos "textos, objetos, luzes, planos, imagens, cores, superfícies" que se encontram nos Babilaques. Trata-se, segundo ele, de uma "multilinguagem". Não se empreende com essas obras uma busca meramente pictórica, pois a linguagem verbal funciona como "o agente que hibridiza todo o campo sensorial da experiência". Nesse sentido, os Babilaques constituem a radicalização de um programa poético -articulado e realizado de diferentes modos, em diferentes momentos da trajetória de Waly- voltado para o hibridismo e a "polinização cruzada".Um texto dele com esse nome diz: "Polinizações cruzadas entre o lido e o vivido. Entre a espontaneidade coloquial e o estranhamento pensado. Entre a confissão e o jogo. Entre o vivenciado e o inventado. Entre o propósito e o instinto. Entre a demiúrgica lábia e as camadas, superpostas do refletido. Imbróglio d'álgebra e jogo de azar"."Uma foto de um pedaço de fruta dentro de uma lata vazia", explica Waly, "não pretende ser uma forma insólita de "natureza morta", mas instaura um discurso, uma fala, um canto, uma música, cines imaginários". Há uma série de Babilaques, intitulada "Amalgâmicas", que correspondem a essa descrição."Q a primeira única vez volte a se fazer PRESENÇA", diz o poema "Nota de Cabeça de Página". Assim quer ser o Babilaque: "A composição enquanto presença dalguma coisa". A presença surge "dentro da composição através dela pela primeira única vez", quando, numa performance poética, o artista põe ou surpreende, por exemplo, tal pedaço de fruta dentro de tal lata vazia. E "a fotografia", dizia Waly, "com seus elementos composicionais próprios: luz, cor, ângulo, corte-transforma e fixa a performance poética".Observe-se nesses textos a insistência da palavra "composição" e cognatas. Uma característica impressionante dos Babilaques -que, aliás, os distingue de quase toda "poesia verbal", conferindo-lhes uma qualidade propriamente plástica- é exatamente a sua composição sempre surpreendente e precisa.A meu ver, a combinação dessa realização visual com a expressão cabal da vocação walyniana para "[...] transbordar, pintar e bordar, romper as amarras / soltar-se das margens, desbordar, ultrapassar as / bordas, transmudar-se, não restar sendo si-mesmo, / virar ou-tros seres [...]" é uma das principais propriedades que tornam os Babilaques admiráveis obras de arte.Finalmente, cabe sublinhar a extraordinária sensibilidade, não digo do curador, mas do artista Luciano Figueiredo, ao conceber a dinâmica planar que lhe permitiu, expondo os Babilaques na parede, realçar maximamente as suas qualidades plástico-poéticas.
(CICERO, Antonio. "Babilaques de Waly Salomão" in: http://antoniocicero.blogspot.com/. Em: 09/09/2007)

No dito o mudo restará

Na edição de número 28 da Revista Piauí, tem, como complemento, poesias magníficas de Ferreira Gullar, que desafia sua praxis, a sua obra, a todo instante em que realiza toda a primavera de sua criação. A ação como um resultado do acontecer respira na sua delimitação de arte, transborda em sua linguagem. O não-dito, aquilo que repousa o mundo, sempre estará tudo aquilo que faz brotar o dito. Assim é o jogo do oculto e de linguagem que se permeia. O valor do homem contemporâneo pelo dito empurra-o para uma atitude retrocessiva da análise das fôrmas e das formas, do determinismo artístico, da escravidão do binômio “sujeito-objeto”. O rótulo, o nome, sempre tudo aquilo que reuni em uma só categoria foge da primazia do que seja “palavra”. Palavra ou parábola vem da raiz grega para – ballein (ao mesmo jogar, lançar). Atento a raiz ballein perceberemos uma tradução ativa (jogar, lançar) em que o verbo se conjuga no infinitivo (ou seja tudo aquilo que não há finitude) e não sobre a tradução do particípio (em que o verbo aspectualiza uma atitude de repouso – por exemplo: parado, jogado, lançado). A palavra é sempre aquela que se escapa do dizer e que vai além do dito e que escoa sobre a boca que não-diz. Essa atitude de não dizer se reflete em tudo aquilo que permanece dito, pois o que é dito já é uma resultante final do não dizer. Essa complementariedade reconsidera não uma oposição, mas uma fórmula permanente de continuidade. O trânsito da palavra está na poesia “Desordem” que evidência um trecho assim dito: “é próprio da palavra / não dizer / ou / melhor dizendo / só dizer” ( versos 47-51). Existe, ainda, uma distância entre a ordem sintática e o não-dito. A desordem se dá ao ponto que a sintaxe se desarticula e não explica, pela palavra, o que não-diz. Não exprime o sabor e sim a normatividade em que se engendra toda engrenagem em plena deterioração. O dentro está tudo aquilo que o fora não explica, mas pertence ao dentro em plena dobra. Nessa unificação do dentro se transforma a poesia, a palavra que se deixa exprimir e que não articula com o que já está dito e fora. Assim, essa mudeza em que se encontra o dentro é a transfiguração do homem em busca do revelar-se. Enquanto a physis adora velar-se, o homem transforma em ser em busca da resposta, em quanto que a própria palavra, muda em questão, já é a resposta.

DENTRO

“Um é um e não dois”
Parmênides, de Platão

estamos dentro de um dentro
que não tem fora

e não tem fora porque
o dentro é tudo que há

e por ser tudo
é o todo:
tem tudo dentro de si

até mesmo o fora se,
por hipótese
se admitir existir

(Ferreira Gullar)

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Agir e coçar é só começar


Uma atitude mileniar é a coçeira. Às vezes o repúdio pelo desvio de conduta nos leva ao preconceito de tal atitude, digamos... incomum. As maiores dúvidas são consoladas diante dela quando o desafio nos propõe o mais ardoroso jogo de engano e dúvida. Ela é uma reação amigável e, acima de tudo, transcedental.

A brotoeja

Ela incomoda sim
Mas ela lhe dá o deleite de experimentar
A mais deliciosa das ambrosias:
A arte de sentir prazer num intenso alivio

Ela nós transforma em ansiedade
Em regozijo
Em recolhimento para todas as inquietudes
Ela é praga do Deus Sol
Ela se cura com pomada
E com a gélida sensação
Do mais amargo frescor do fim

A coceira é um exercício reflexivo
De exploração do próprio corpo
Do cavar a cavidade mais que profunda
É descobrir aquela fisgada tão esperada
Para um céu de diamantes
Claro, é um momento ritualístico de qualquer e toda intimidade
Longe dos flesh´s e dos protocolos cerimoniais
É fruto de coisas brilhantes
E que se localiza nas pernas, nos braços ou no bumbum
No pescoço, no rosto
Ou em qualquer lugar
Se torna pataca quando fica atacada
Ela é a mais bruta representação das expressões humanas
Se torna obra de arte quando encontra a própria e trivial natureza humana

A brotoeja
é o símbolo de grande virtude
de tudo aquilo que almeja ser expelido

CAIKO FIGUEIREDO
Rio de Janeiro, 7 de Fevereiro de 2010